By Jet Sites
 


Linhagem 53 - Um pouco de História

por: R. Casiuch


   Para inserirmos em seu exato contexto histórico a visita do Conde R. de Grenaud à região de Ribeirão Preto em 1914, vale descrever com detalhes os registros da Criação '53' que tão honrosamente recepcionou o célebre cavaleiro francês.

   Considera-se 1902 como o marco inicial da criação Mangalarga -'Tropa 53', com fases bem distintas:
   A) José Frausino Junqueira Netto ('Zezé do Agudo': 1902-1909): utilizou basicamente descendentes dos reprodutores TELEGRAMA e JÓIA. O primeiro, Telegrama, tem sua origem na região de Cristina(MG) e veio para São Paulo pelas mãos de João Francisco Diniz Junqueira ('Chico das Melancias'), tio de José Frausino, sendo seus frutos mais conhecidos Rio Branco, Impedrado, Índio e Bote. Já o segundo, Jóia, foi introduzido por Francisco Marcolino Diniz Junqueira ('Capitão Chico'), sogro de José Frausino, oriundo da Fazenda Chamusca em Cachoeira do Rato(MG). De Jóia da Chamusca são descendentes Torpedo, Fortuna, Vai Vem, Montenegro, Plutão, Rocambole, Bardo e Completo. Deste último reprodutor vale citar que suportava o peso de um caçador de veados campeiros, algo como cento e poucos quilos, por dois ou mais dias consecutivos de caçada. E não perdia o passo...

   B) José Mário Junqueira Netto (1909-1921): tendo falecido prematuramente José Frausino em 1909, assumiu as diretrizes da Fazenda Agudo seu filho José Mário. Sendo também grande admirador do cavalo nacional criado no seio da Família Junqueira, e entendendo que existia uma real necessidade para a criação desta 'máquina viva', foi intransigente quanto ao emprego de animais de raças exóticas na ' Tropa 53':simplesmente não os utilizou, empregando somente puros Mangalarga em suas éguas. Dentre os sementais por ele utilizados há que se destacar: FORTUNA V (Fortuna IV x Braceira), pai de BRASIL (x Moura), reprodutor no plantel de Magino Diniz Junqueira; COLORADO (x Prenda), que foi pastor-chefe no seleto criatório de Francisco Orlando Diniz Junqueira ('Capitão Chico Orlando'); e CARDÃO (x Prata), que o citado Conde de Grenaud aborda na visita à Fazenda Invernada e que se tornaria famoso dentro da 'Tropa 53', especialmente após ter se sagrado Campeão Estadual Paulista em 1913.

   Outros garanhões que serviram ao plantel '53' neste período foram: Submarino, Cravo, Colorado, Canário, Sucupira e Aventureiro (Índio x Douradilha), que gerou o afamado APOLO (x Araponga, esta por Fortuna IV x Arara).

   C) Renato Junqueira Netto (1922-1962): após o colapso cardíaco sofrido por seu irmão, José Mário, durante uma caçada ao veado em fins de 1921, assumiu a missão de selecionador Renato Junqueira Netto, que imprimiu forte avanço ao plantel quando centralizou os trabalhos de reprodução no castanho APOLO, o destaque da Raça Mangalarga na década de 20. Descendentes seus espalharam-se pelos plantéis de José (Juca) Junqueira Franco, Saulo Junqueira Franco, Abílio Junqueira Franco, Antonio (Nico) Junqueira Franco, Antenor Junqueira Franco, José Floriano (Flori) Martins e Badih Aidar. Os filhos de Apolo que mais se destacaram na Tropa '53' foram: LANCEIRO (x Japoneza), FUZILEIRO (x Queimada) e FARRAPO (x Predileta).

   Nos anos 20 também lá serviram, para abrir a consangüinidade existente, os sementais ÓDER (Colorado x Sentida) e BRASIL BELA CRUZ (Bellini JB x Bela Cruz). Em 1931 iniciou-se nos serviços de seleção o belo castanho escuro BOTAFOGO (Óder x Japoneza), que atingiria o Campeonato Nacional da Raça Mangalarga em 1933, um ano antes da fundação da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga, sendo seu primeiro presidente o perseverante Renato Junqueira Netto.

   Em 1936, BOTAFOGO foi Campeão Absoluto de Todas as Raças Nacionais (Mangalarga, Crioulo, Campolina e Pantaneiro) no Rio de Janeiro, atuando no rebanho até 1941 e realçando sua produção como um excelente formador de fêmeas e marcante avô materno.

   Nas décadas de 30 e 40 os auxiliaram nas coberturas: BALUARTE (Holofote x Favorita), SOBERANO (Montenegro II x Cintada), MARINETE (Cacique x Baia II), CANÁRIO (Montenegro II x Alazã), MINUETO (Canário x Predileta), CRAVO II (Montenegro II x Cravina), SELADO (Brasil 53 x Selada), MOSCATEL (Farrapo x Hebréia) e o refinado LÍRIO (Fuzileiro x Havana, esta por Botafogo x Nova Odessa, que vai a Fortuna V x Reserva), e que trabalharia no plantel durante 15 anos, solidificando um vasta prole de fêmeas.

   Nos anos 50 dividiram os trabalhos os pastores YEDO (Arlequim x Tangerina) e TREVO (Lírio x Lanceta), que o Sr. Renato havia cedido ao amigo Torres Homem Rodrigues da Cunha e que retornaria de Uberaba-MG para o Estado de São Paulo após uma solicitação gentilmente aceita de imediato.

   Era o retorno da linhagem de Lírio a seu seio de criação, que desaguaria na formação de NITRATO (Trevo x Riga, esta por Minueto x Havana) e que tornar-se-ia o titular da 'Tropa 53' nos anos 60 e 70, quando a maior parte dos animais marchadores do prefixo '53' migrou para os registros do Mangalarga Marchador por desígnios dos filhos de Renato Junqueira Netto, entre eles Haroldo, Carlos e Renatinho, sob a orientação zootécnica de Mário de Castro Andrade ('Maroca'), eminente técnico de registro genealógico da A.B.C.C.M.Marchador.

   Conforme se verificou ao longo deste século XX, as sugestões do Conde R. de Grenaud não foram levadas a cabo pela Família Junqueira, pois neste sentido sentenciou peremptoriamente Renato Junqueira Netto:

" A criação da raça pura continuará agregando a melhor perfeição nos eqüinos, e proporcionará a pureza genética e a uniformidade desejadas, que como sustento dos criadores, formam a arte de criar melhores cavalos".