Entrevista
concedida ao:
Jornal do Clube Virtual Mangalarga Marchador - Ano III - Edição nº 36/2002
Como você adquiriu o gosto pela raça ?
Conheci o cavalo Mangalarga Marchador no início da década de 70 quando meus pais adquiriram um sítio em Sacra Família do Tinguá (RJ). Ao acaso, tornei-me vizinho de grandes criadores como: Maria Irene e Murilo Reis (Haras Jequitibá), Hélio Bello Cavalcanti (Haras HB) José Joaquim Schmidt (Haras Tinguá), além de outros. Procurei desfrutar ao máximo dos ensinamentos e observações que deles emanavam. Ficava horas visitando suas tropas, acompanhando os nascimentos de seus potrinhos e evoluindo com os novos garanhões. Por esta regiâo vi passar reprodutores históricos como: Herdade Cadillac, Quarteirâo do Tinguá, Ara Tradutor, Tabatinga Modelo, Jambo do Tinguá ( que inclusive tive o grande prazer de registrá-lo em definitivo na ABCCMM quando exercia a função de técnico ). O gosto vem daí, das conversas com os mais experientes.
Linhagens do Marchador, quantas existem ? ... Fale um pouco sobre elas ?
O cavalo Mangalarga Marchador, diferentemente de outras raças nacionais, possui inúmeras linhagens antigas e de tradição. Este fato lhe garantiu a expansão dos plantéis por todo território nacional, pois os novos criadores exerceram suas escolhas em ampla variabilidade.
Assim, segundo a própria ABCCMM, reconhecemos como linhagem um grupo de animais que se mantém com as mesmas características genotípicas e pequenas variações fenotípicas. São criações que se mantiveram praticamente isoladas, desenvolvendo com objetivos claros sua seleção morfológica e funcional, fugindo ocasionalmente da consanguinidade entre suas matrizes e garanhões.
No livro "O Romance da Raça", publicado em 1997, expressei-me claramente sobre as principais linhagens, dividindo-as em:
a) Antigas: FAVACHO - CAMPO ALEGRE - TRAITUBA - NARCISO - JB - 53 - ANGAHY - ENGENHO DE SERRA - LEME - JUCA CARNEIRO - CRI- MINOSOS - SILVESTRE/GOIABAL - ÁGUA LIMPA
b) Tradição: ABAÍBA - ALIANçA - ARA - BELA CRUZ - CATUNI - CAXAMBU - GIRONDA - HERDADE - ITAMOTINGA - PASSA TEMPO - PORTO - TABATINGA - KM 47
Cada uma delas preferenciou um tipo de animal, segundo o caráter e a visão zootécnica de seu líder. Portanto, encontramos entre elas algumas que se dedicaram mais à função, logo andamento e temperamento de sela. E outras que se voltarão mais para o belo exterior, logo morfologia. Aos criadores atuais cabe o papel de extrair desta "biblioteca" de genes as características que desejam imprimir em suas seleções.
Todas possuem qualidades, valendo aí a sensibilidade de cada um.
Qual linhagem você considera o embrião do Marchador ?
Historicamente,segundo o mesmo relato que destaquei no livro "O Romance da Raça", coube à Família Junqueira o verdadeiro embrião tanto da Raça Mangalarga quanto da Raça Mangalarga Marchador.
No caso específico do Mangalarga Marchador, as Fazendas do Favacho, Campo Alegre, Campo Lindo, Traituba, Angahy e Narciso exerceram um efeito disseminador inicial deste tipo de animal a partir do início do Século XIX, que se consolidaria nas demais fazendas ao longo do Século XX. é na região que se estende de Cruzília a Minduri, no Sul de Minas Gerais, que encontraremos sempre o embrião original do Mangalarga Marchador.
O Museu do Cavalo Mangalarga Marchador, como seria ?
O Museu Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador é uma meta que todos os criadores preocupados com o resgate e a preservação do passado devem perseguir.
Segundo projeto apresentado em 1999 à ABCCMM, ele deverá se constituir de acervo histórico das antigas fazendas de criação (fotos, móveis, utensílios, troféus, documentos, selas, livros, etc.), bem como de centro de estudos zootécnicos da raça.
Paralelamente, busca-se o museu vivo do cavalo,onde criadores e leigos poderão vislumbrar o Mangalarga Marchador em ação.
Sugeriu-se a ABCCMM a opção de localizá-lo em duas localidades: a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - KM 47 ou Caxambu (MG). Penso que os diretores atuais, bem como os postulantes à eleição de Abril 2002, deveriam olhar com carinho este projeto.
Já se disse que: "Quem não preserva o seu passado, não merece disputar uma vaga em seu futuro".
Seu Mangalarga Marchador ideal, descreva marcha e morfologia ?
Meu cavalo ideal é aquele que mora dentro de nossos corações.
Não tem nome, nem pelagem definida. Pode ser macho ou fêmea.
Mas sempre será aquele que nos emociona ao marchar ante nossos olhos, desfilando com alma sobre a grama dos piquetes e dos parques de exposições.
Reservo este espaço para suas considerações finais.
Espero sinceramente que um pouco do que procurei expressar aqui reflita os ensinamentos que amantes do Cavalo Mangalarga Marchador me transmitiram. Considero-me uma pessoa de muita sorte, pois convivi e convivo ainda hoje com fontes de conhecimento ilustre sobre esta raça. Dentre estes, permito-me citar sabendo que esquecerei de alguns: João Pessoa de Souza, Arlecy Araújo, José Jaline de Azevedo,
Leandro Canedo Guimarães, Raul Junqueira de Araújo, Geraldo Diniz Junqueira, José Márcio Carvalho Leite, Carlos Roberto Ribeiro Meirelles, José Ailton Pupio, Marcelo Wanderley, Santierme Barbiere, Adão Claudio da Silveira, Paulo César ´Avelino´de Oliveira, Geber Moreira, José Sylvio de Magalhães, Lecy Lopes do Val, Antonio de Andrade Ribeiro
Junqueira, Rubens Caldas Pessanha,José Ciro de Andrade,Haroldo Junqueira de Andrade, Luiz Augusto Sacchi, Rosalbo Bortoni, Djalma Barbosa de Lima, Francisco Walder Ferreira, Newton Sturzenecker, Mário Ribeiro Estrela, Elias Tavares, Eduardo Oliveira Araújo, Fernando Luiz de Queiróz, Moacy Peres Mury, José Mendonça Carraro, Haroldo Junqueira Netto, José dos Reis Meirelles Filho, Paulo Martins Teixeira, Lúcio Wanderley, Márcio de Andrade, Urbano Juqueira de Andrade, José
Geraldo Areas, Neuza Junqueira Reis,João Carlos Penna de Araújo Moreira, José Lúcio Rezende, Henrique Rodrigues Pereira, Moacir Ribeiro de Andrade,e muitos outros, além dos já citados nas respostas acima.
Um homem não deve renegar sua origem e o Mangalarga Marchador certamente nos permite o ápice da amizade.
Nada mais simples, nada mais cristalino.
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